entrevista: senador eleito

'A população deu um basta na forma de fazer política', afirma Paulo Paim

Foto: Edilson Rodrigues (Agência Senado)

Reeleito em 7 de outubro para o terceiro mandato no Senado, o petista Paulo Paim completa ao final desta legislatura 40 anos de vida pública somente no Congresso. Em entrevista ao Diário, ele destaca as bandeiras que pretende defender com mais 8 anos pela frente, o sentimento antipetismo que dominou nas urnas e como seu partido pretende fazer oposição ao governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Confira os principais trechos:    

Trajetória

  • Nome - Paulo Renato Paim
  • Idade - 68 anos
  • Naturalidade - Caxias do Sul
  • Profissão - Metalúrgico
  • Carreira política - Deputado federal por quatro mandatos e senador em segundo mandato
  • Principais feitos políticos - Relator e criador de leis e estatutos como o do Idoso, da Pessoa com Deficiência, da Igualdade Racial e da Juventude 

Dário de Santa Maria - O senhor foi eleito para um terceiro mandato. A que fatores, o senhor atribui sua eleição, já que seu partido saiu bastante derrotado das urnas?
Paulo Paim -
Primeiro, só posso agradecer ao povo gaúcho. Ao todo, são quatro mandatos como deputado federal e três de senador. Quando terminar esse mandato, serão 40 anos dentro do Congresso Nacional. Entrei na Constituinte e estou até hoje. Eu entendi que essa votação que acabei tendo foi atrelada ao trabalho que sempre fiz no Congresso. Tentei, no início da campanha, mostrar o que eu fiz e o que pretendo fazer. Não fiz ataques a ninguém, não desrespeitei ninguém, mas também não fiquei na defensiva. Mostrei os tantos estatutos que eu aprovei, que beneficiam, se somar tudo, em torno de 150 milhões de pessoas. Estatuto da juventude, Igualdade Racial, Pessoa com Deficiência, o Estatuto do Vigilante, a política de salário mínimo... É como eu digo: quem já é candidato não adianta achar que em 45 dias vai mudar o mundo. Ele tem que mostrar o que fez durante a atividade parlamentar.

Diário - Nesta eleição, o sentimento antipetismo dominou o país, ajudando a eleger muitas candidaturas conservadoras ligadas à direita. O senhor não acha que denúncias de corrupção envolvendo o PT, o fato de seu maior líder, ex-presidente Lula, estar preso e o partido não reconhecer seus erros podem ter sido determinantes para cenário?
Paim -
Eu diria que, em primeiro lugar, a população deu um basta na forma de fazer política e para todos os partidos. Não somente para o PT. No Senado, eram 54 vagas em disputa e só 8 senadores se reelegeram. Eu fui o único que voltou pegando São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A população disse um basta a essa forma tradicional de fazer política, com um olhar muito mais ideológico e partidário, acabando por deixar de lado as ações que repercutem na vida das pessoas. A população quis dizer não e fez um protesto. Eu diria que quem mais votou nesse fenômeno chamado Bolsonaro (presidente eleito), não votou nele em si, até porque ele não apresentou proposta nenhuma. Ele foi uma forma de rebeldia da população dizendo não, que queria mudar. E foi essa onda de não reeleger ninguém, que aconteceu uma mudança muito forte dentro da Câmara e do Senado.

Diário - O senhor esperava essa mudança?
Paim - É claro que não, ninguém esperava. Veja bem: no sábado, véspera da eleição, eu estava com 45% das intenções de voto na última pesquisa, e o Fogaça (José) também. No outro dia, eu terminei com 12% e o Heinze em torno de 22%. Eu não conhecia a maior parte dos eleitos tanto para governador quanto para deputado. Eu nunca tinha ouvido falar me muita gente. A Carmen Flores, por exemplo, eu nunca tinha ouvido a não ser em placas de loja, sem nenhum demérito a ela. Porém, ela recebeu quase um milhão e meio de votos, é muito voto. O governador do Rio de Janeiro (Wilson Witzel), nunca ouvimos falar, o governador de Minas Gerais (Romeu Zema)... A população queria uma mudança radical.

Diário - No Rio Grande do Sul, por exemplo, foi a primeira vez, desde 1994, que o PT não disputou o segundo turno.
Paim
- No Rio Grande do Sul, não foi diferente de outros Estados do país. A população também não queria votar em partidos mais conhecidos e se criou um clima muito forte anti-PT. Eu chegava nas portas de fábrica, onde eu sempre era abraçado e beijado pelos trabalhadores e trabalhadoras, desta vez, as pessoas praticamente sussurravam no meu ouvido. Não da para negar que o ciclo de mudança no Brasil foi muito forte, assim como nos Estados Unidos elegeram Donald Trump. Mas tudo isso faz parte de um processo democrático. Não podemos achar que só quando ganhamos as coisas estão certas. Vida longa à democracia e vamos respeitar o resultado das urnas, torcendo para que os candidatos eleitos acertem. O papel dos que perderam é fiscalizar, cobrar, mas também propor alternativas.

Diário - O senhor terá mais oito anos pela frente no Senado, quais serão suas principais bandeiras?
Paim _
Existem muitos projetos tramitando, mas eu listei quatro ou cinco que são fundamentais. A reforma da Previdência, pelos moldes propostos, não deve ser aprovada. Inclusive temos uma reunião da Frente Parlamentar em Defesa da Previdência na próxima terça-feira (amanhã). Não acredito que eles consigam aprovar a reforma ainda neste ano. Faremos de tudo para que isso não aconteça. Eu defendo que o novo presidente e o novo Congresso devam se debruçar sobre o debate da Previdência. Eu presidi a CPI da Previdência temos muito a contribuir para mostrar que o problema é de gestão, de combate à sonegação e à cobrança dos grandes devedores. O número dois, todos sabem, é contra a Reforma Trabalhista. Já apresentei um novo estatuto do trabalho e vamos debater para termos uma legislação descente, porque essa é indecente em relação aos trabalhadores e ao povo brasileiro, na minha ótica. O terceiro ponto é o congelamento dos investimentos pelos próximos 20 anos. O país que quer crescer precisa de investimento. Isso prejudica a saúde, educação, infraestrutura, distribuição de renda. Prejudica todos. Ela tem que ser revogada. Além disto, é claro que farei de tudo para ajudar o Rio Grande do Sul em tudo aquilo que for necessário, com destaque para a dívida pública.

Diário - O governador eleito, Eduardo Leite (PSDB), vai precisar muito da bancada gaúcha para ajudar na negociação da dívida do Estado com a União. Qual será seu papel nessa questão?
Paim
- Os três senadores serão parceiros para ajudar na negociação. Todos esses anos que eu estou aqui, com o senador Zambiasi (Sergio) e Simon (Pedro), depois com o Lazier (Martins) e Ana Amélia (Lemos), lutamos pelas questões de interesse do Rio Grande do Sul. Quando é a favor do Estado, ficamos juntos, sem problema algum. Eu apresentei, em 2015, um projeto de renegociação da dívida do Estado, em que a gente mostra que o Rio Grande do Sul fez uma dívida de mais ou menos R$ 9 bilhões, pagou quase R$ 40 bilhões e deve quase R$ 70 bilhões. Ou seja, é uma dívida impagável. Se formos atualizar a dívida pelo IPCA e não pelo IGPDI, praticamente a União é que está devendo em torno de R$ 11 bilhões para o Estado. Precisamos também falar sobre a Lei Kandir, em que a União deve quase R$ 50 bilhões par anos. Estarei junto com o governador para ajudar na renegociação de uma dívida que, no meu entender, já está paga. Vamos construir uma alternativa. Isso está acima de partido, de bandeira ou de questões ideológicas.

Diário - O que um senador da República pode contribuir para o crescimento da Metade Sul, que tem dificuldades para se desenvolver?
Paim -
 O Simon já tinha apresentado um projeto nesse sentido. É um projeto que visa o desenvolvimento da região sul do nosso querido Estado. A Metade Sul já foi a metade pobre, mas também já demos uma alavancada durante os governos de Lula e Dilma, principalmente no Polo Naval. Porém, agora, precisamos de um novo incentivo.

Diário - O senhor acha que o presidente eleito conseguirá uma maioria consolidada para votar a reforma da Previdência, flexibilização do Estatuto do Desarmamento e a redução da maioridade penal?
Paim -
Quem acompanhou o processo do fenômeno Bolsonaro, tem que admitir que ele, provavelmente, terá a maioria da Câmara. Porém, a política é muito dinâmica. Aquilo que vale nesses três meses, não vale daqui a pouco. O Bolsonaro entra com muita força com esse grito de rebeldia e mudança que a população quis. Mas nós não sabemos o que vai acontecer para frente. Tenho certeza de que vamos ter grandes debates. Aqui não tem como não debater, diferente de uma campanha, em que ele não compareceu aos debates.

Diário - A democracia estará em risco no governo Jair Bolsonaro? A Constituição será respeitada?
Paim -
Sempre estamos em estado de alerta. Ninguém inventou no mundo um sistema melhor do que a democracia. Ela é o símbolo da liberdade, igualdade, Justiça, de que você pode se expressar, de ir e vir. É claro, estaremos muito vigilantes. Muito mais do que um debate de situação ou oposição é a democracia que pode ser atacada, como já aconteceu na história da humanidade.

Diário - Enquanto oposição ao governo Bolsonaro, como deverá ser a postura do PT?
Paim
- Eu sempre defendi a seguinte posição: você tem que fazer um bom combate e saber defender e aprovar tudo aquilo que seja de interesse do povo. Eu quero mais é que o presidente eleito acerte, que a economia volte a crescer, que tenhamos emprego, saúde, educação e uma previdência viável. Vamos torcer para que ele acerte, independentemente de uma questão partidária ou mesmo ideológica. Nós faremos sempre a nossa parte para o melhor do povo brasileiro.

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